Loucos de Lisboa
Parava no café quando eu lá estava
Na voz tinha o talento dos pedintes
Entre um cigarro e outro lá cravava
a bica, ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
Cinzenta como a roupa que trazia
Num gesto que podia ser de amor
Sorria, e ao sorrir agradecia
São os loucos de Lisboa
Que nos fazem recordar
A Terra gira ao contrário
E os rios correm para o mar
Um dia numa sala do quarteto
Passou um filme lá do hospital
Onde o esquecido filmado no gueto
Entrava como artista principal
Compramos a entrada p'ra sessão
Pra ver tal personagem no écran
O rosto maltratado era a razão
De ele não aparecer pela manhã
Mudamos muita vez de calendário
Como o café mudou de freguesia
Deixamos de tributo a quem lá pára
Um louco a fazer-lhe companhia
E sempre a mesma posse o mesmo olhar
De quem não mede os dias que vagueam
Sentado la continua a cravar
Beijinhos as meninas que passeiam.
p.s. - talvez prefira os loucos aos outros
3 Comments:
Um viva para os loucos! São preferíveis a essa gente tão "normal".
10:47 da manhã
Meu caro,
é fato sabido que de perto ninguém é normal. Já sabia que temos muito mais semelhanças que diferenças, mas a tua presença atenta a cuidar das minhas meninas nos aproxima ainda mais.
Muito obrigado.
6:57 da tarde
flavita - todos nós temos uma criança e um louco dentro de nós. O "probrema" é quando ambos estão a dormir a sesta.
flavio - a atenção e presença não são dadas. Foram conquistadas com sorrisos e palavras lusodoces. Obrigado sou eu pela confiança depositada num dos possíveis loucos de Lisboa.
12:39 da tarde
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