Este é um espaço dedicado aos sonhos.

quarta-feira, novembro 30, 2005

Leituras - Estes estranhos amores

"us", por Eddie Law

"(...) Podia ter dito, "os homens nunca entendem nada", mas seria inútl. As mulheres, na verdade, não precisam que os homens as compreendam. basta que as ouçam. Ele sabia disso e assim continuou calado. (...)"
"(...) Aborrecia-o que ela não tivesse gritado. A mulher possuía um corpo intenso e vibrante (sim, havia vibrado nos seus braços), mas ao mesmo tempo parecia tão distante dele quanto um navio pousado na linha do horizonte. Não um navio qualquer: ele via-a como um transatlântico, uma vasta cidade de espelhos e cristais, com as suas festas junto à piscina, os jantares no grande salão, os bailes de máscaras, os inúmeros assombros nos quais nunca conseguiria penetrar.(...)"
"(...) Não viajaria jamais num transatlântico. Sentia-se em relação a ela como o pequeno peixe-pescador, um peixe dos abismos oceânicos, cujo macho se une à fêmea com tal paixão que chega a prescindir do próprio corpo. Também ele dependia inteiramente dela. Ela, no entanto, só o achava interessante enquanto o tinha na cama.(...)"
"(...) O teu corpo agrada-me muito. Seria certamente a resposta errada. Qualquer resposta seria a resposta errada. Ele envelhecera. Estava quase sábio. Compreendeu que faria melhor se continuasse calado. Preferia fingir-se de morto, como alguns pequenos animais quando o predador os alcança. Há sempre a possibilidade de que o predador apenas se pretenda divertir com a perseguição. Talvez ela não quisesse realmente a sua carne.(...)"
"(...) O que diria o peixe-pescador à respectiva fêmea se esta decidisse livrar-se dele? Podia dizer-lhe que a amava, que já não conseguiria viver sozinho; de facto, coitado, não conseguiria. A boca do peixe-pescador funde-se à pele que recobre a fêmea; os sistemas vasculares do macho e da fêmea unem-se e o minúsculo macho passa a depender inteiramente do sangue da fêmea para a sua sobrevivência. Transforma-se, digamos assim, num pénis portátil. (...)"

in "Catálogo de Sombras", "O corpo no cabide", José Eduardo Agualusa